domingo, 17 de abril de 2016

há nove anos…

gelo2… este vosso amigo zangava-se. por vezes. E dava-lhe então para abandonar qualquer jovialidade pueril e falar de assuntos que queimavam os nossos quotidianos. Está neste caso o pequeno texto que escrevi no Tralapraki em 2007 e que espero sinceramente  tenha sido apenas uma manifestação exagerada de um terror imaginado. Terá mesmo?

O texto a que me refiro está AQUI, e chama-se “não direi isto duas vezes”.

sábado, 16 de abril de 2016

Os novos doze apóstolos?

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Francisco carregou doze refugiados sírios para casa. Preciso, desde já, explicar que este post não transporta qualquer lufada de crítica à atitude papal. Muito pelo contrário, esta atitude transforma este papa no primeiro com quem realmente simpatizei e faz dele a meus olhos um político audaz e um estratega brilhante, para além do que eu já considerava que ele era, isto é, um homem muito bom, sábio e inteligente.

O número de refugiados não foi, obviamente, uma feliz coincidência. Antes radica no número de apóstolos que Cristo escolheu para seus seguidores e profetas. Estes doze, apenas doze, e nem por isso lá muito dotados de inteligência e sabedoria, acabaram por se reproduzir em milhões, como sabemos.

Há, no entanto, mais contactos entre a escolha de Cristo e a escolha de Francisco. Também Cristo escolheu os seus discípulos entre pessoas que andavam meio perdidos na vida, pescavam pouco, embebedavam-se com frequência, não possuíam um palmo de terra, não tinham facebook, eram meios marginais, não gozavam da simpatia dos vizinhos e tinham fugido das casas paternas para dormir na rua, por causa da violência doméstica. Cristo pegou neles, falou-lhes aos corações empedernidos, ensinou-lhes a pescar peixe mais graúdo e só não os levou para a sua própria casa, como faz agora o papa Francisco, porque o carpinteiro já era velho e não suportava barulho depois da meia-noite.

O vaticano é imenso, o papa praticamente não os verá mais, mas as riquezas do vaticano e a vida confortável que os refugiados terão lá levá-los-ão a renegar a miséria que as suas religiões lhes trouxeram e a abraçar, sem constrangimento, a religião católica. Só burro não aceitaria esta mudança e isso eles não são, como sabemos.

Depois de bem comidos e bebidos, nutridos no corpo e no espírito, é só semeá-los nas terras da moirama e deixar o fermento levedar… Brilhante.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Desconfio que sou um robot

robotAqui há tempos resolvi comprar uma viola e entrei numa página, armado de entusiamo e cartão de crédito. Antes de preencher o respectivo número, a página pediu-me que provasse que não era um robot, obrigando-me a copiar um número meio borrado, tarefa que cumpri com alguma dificuldade. Pude então comprar a viola, transbordante de felicidade, porque fiquei convencido que pertencia à chusma dos humanos, e não à dos robots, sem compreender, no entanto, o irracional preconceito que proíbe a um robot a simples compra de uma viola. E se, por acaso, este quiser optar por ser seresteiro em vez de, por exemplo, um político bem instalado e sorridente? (Asseguro-lhes que há um robot no museu do Louvre que sorri aos visitantes mais candidamente que o próprio António Costa).

É muita página a desconfiar que sou robot. É, portanto, altamente provável que o seja, de facto. Todos os meus actos, volições e cobardias recentes me levam a pensar isso…

(Mas, se assim é, porque  não fui ainda chamado à governação do país?)

(Imagem devolvida pelo Google sob “Robots”)

1. “o texto primordial” ou “é o primeiro post, que diacho, perdoem, vá lá”

Acreditam muitos que andamos sempre a escrever o mesmo texto. Deus, quando resolveu construir-nos do modo como achou por bem fazê-lo (e não à sua imagem e semelhança, como alguns teimam ter sido), deu a cada um de nós um nome e um discurso. O nome deu-no-lo Ele por interpostas pessoas (os pais, os padrinhos, as amantes, a autoridade tributária, etc.); o discurso foi-nos soprado por Ele para dentro dos nossos miolos e lá ficou a ditar e a controlar as Discursonossas vidas, mesmo as dos que nunca escreveram uma palavra além do próprio nome. Nestes casos, o discurso está implícito, o texto está imanente. E está-o a tal ponto que essas pessoas julgam frequentemente não o possuir, e calam-se amiúde.

Cada um de nós tem, portanto, um único texto discursivo dentro de si, um só, o seu, e não o pode reeditar  ou substituir. Os que acreditam tê-o julgam-se, de um modo geral, felizes possuidores de um atavio exuberante e inédito e escrevem-no por aí, em livros, blogues, pedras e árvores ou sibilam-no fortemente nas nossas orelhas, nas escolas, no vento. Repetidamente, até à alergia colectiva. Por mais que tentem disfarçá-lo, vê-se logo que é sempre o mesmo, apesar das indumentárias de carnaval ou de semana santa com que o ornamentam. Está neste caso este vosso indefectível amigo.

O discurso é um adereço tão íntimo como as cuecas de cada um. Não devíamos evidenciá-lo tanto, pendurá-lo tão patente no estendal da nossa natural jactância*. 

É que, olhando com atenção, qualquer um vê que está mal lavado.

*Este recurso estilístico foi-me ditado por ter acabado mesmo agora de estender a roupa.